Por ventura eu escrevo neste bloco de papel A3, no verso, na contra capa – não liguem – talvez a minha vida esteja do avesso, talvez a confusão não me deixe discernir o certo do errado, por isso a aspereza desse papel quando me ponho a escrever me faz lembrar um pouco da minha vida, exalta a sensação do tato , recuperando-me umas das cinco sensações que quase nem sinto. Cada minuto é uma extensão de tempo, sendo cada segundo precioso pra quem vive , cada hora não desenha em si um relógio, mas escraviza a verdade e o tempo que se passa… Meu tempo aqui é limitado, infelizmente tem de ser assim , pra que eu não me acostume a somente falar com as paredes, trancafiado nessa jaula, as horas não passam, me sinto bem como um animal amordaçado, como um pássaro que apenas canta na gaiola por esperar que seu canto maior seja o canto da liberdade. Eu bem sei que falar que sou inocente é uma inverdade , pois aqui é algo que muitos falam, portanto não escrevo pela inocência e nem espero por um milagre maior, a minha felicidade é sentir o sol que entra pela janela e observar de longe pessoas livres.
Eu olho pela janela, sinto o vento que toca minha face, por um momento posso fechar meus olhos e me imaginar feito um pássaro que voa , sentindo a brisa suave no rosto e furando as nuvens, mas logo acordo com o estrondo causado pelo aço, de mais um falso inocente que aqui chega. Fico pensando na vida, se é que posso dizer que tenho, se é que realmente quem vive sabe que vive, eu não sei, aqui tudo se confunde, tudo é diferente. Se os humanos se letrassem mais, talvez tivessem estudado em física, que toda ação tem uma reação, mas não vem ao caso dizer, por que aqui se encontram animais que pensam que dois menos um é dois, que pensam que a vida foi feita para a morte.
Eu não sou diferente de ninguém, tenho lá minhas culpas e também serei condenado. A diferença e a sorte, é que um dia eu fui letrado.
Jair Fraga V. Neto
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